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quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Fotografia



No interior da estação rodoviária, o homem escorado no balcão, toma café puro com suas malas junto aos pés. Olha o relógio enquanto bebe controlando o horário. É estranho como o tempo pode se arrastar ou voar, dependendo de sua necessidade, e naquela manhã ele parecia ter definitivamente parado.

Um menino com roupas surradas aproxima-se com pressa infantil. Ele tem uma fotografia em uma das mãos e uma nota de cinco reais na outra. 

- Tio! Isso aqui é pro senhor!

O menino entrega a fotografia para o homem e se afasta em direção ao balcão


- O que é isto?

O homem ainda perplexo, pega a fotografia um tanto a contragosto, olha para ela e vê a imagem de um garoto com seus 4 anos. Franze o cenho olhando a imagem. Virando-a percebe que há algo escrito nela.

O menino está saindo do bar devorando a segunda parte de um chocolate. A boca rebocada de negro denunciava onde andaria a primeira metade. O homem o vê com o canto do olho e o chama antes mesmo de terminar a leitura:

O menino segue. O homem olha para os lados, olha as pessoas que vem e vão, mas nenhuma parece se importar com a presença dele. Ele volta a olhar a imagem, vira a foto e segue a leitura

O homem olha novamente a foto, franze o cenho mais ainda. Olha com mais atenção. Aos poucos sua expressão vai suavizando surgindo um sorriso muito leve. Passa o dedo pelo rosto do menino. Olha para cima, para o nada, buscando algo em suas memórias.

O homem tem ar pensativo. Pega seu celular, começa a mexer nos nomes da agenda, parando em alguns nomes de mulher. Para um ele balança negativamente a cabeça, em outro ele sorri levemente com ar de saudade. Olha novamente para a fotografia com o mesmo sorriso leve. Seu celular vibra, na tela uma mensagem de sua namorada, para onde ele está viajando faz seu seu semblante fechar novamente, volta a franzir o cenho com ar pensativo e de preocupação. Um filho... Ele sempre pensou em ter um, agora de súbito ele tinha um?

De repente uma mulher se aproxima dele. Ela vem de cabeça levemente abaixada e com ar envergonhado
A mulher pega suavemente a fotografia das mãos do homem que não oferece resistência. Com ar de espanto, de alivio, mas no final de lamento também.

Olha o relógio e percebe que desta vez o tempo acelerou e já está atrasado, toma o ultimo gole de café rápido, junta sua mala e sai apressado. 



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