A Fotografia
No interior da estação rodoviária, o homem escorado no
balcão, toma café puro com suas malas junto aos pés. Olha o relógio enquanto
bebe controlando o horário. É estranho como o tempo pode se arrastar ou voar,
dependendo de sua necessidade, e naquela manhã ele parecia ter definitivamente
parado.
Um menino com roupas surradas aproxima-se com pressa
infantil. Ele tem uma fotografia em uma das mãos e uma nota de cinco reais na
outra.
- Tio! Isso aqui é pro
senhor!
O menino entrega a fotografia para o homem e se afasta em
direção ao balcão
- O que é isto?
O homem ainda perplexo, pega a fotografia um tanto a contragosto,
olha para ela e vê a imagem de um garoto com seus 4 anos. Franze o cenho
olhando a imagem. Virando-a percebe que há algo escrito nela.
“Você
deve estar se perguntando quem é este menino da foto, olhe em para ele, pois
esta é a única imagem que você vai ter de seu filho. Isto mesmo, seu filho!”
O menino está saindo do bar devorando a segunda parte de um
chocolate. A boca rebocada de negro denunciava onde andaria a primeira metade. O
homem o vê com o canto do olho e o chama antes mesmo de terminar a leitura:
- Hei garoto! Quem te deu isso?
- Uma tia lá do outro lado tio. Ela
me deu 5 pila para entregar isso daí pro senhor.
- Mas quem? Quem é ela? Onde ela
está?
- Sei não tio, ela só me pediu para
entregar pro senhor e eu vim, mas não sei quem ela é não senhor.
O menino segue. O homem olha para os lados, olha as pessoas
que vem e vão, mas nenhuma parece se importar com a presença dele. Ele volta a
olhar a imagem, vira a foto e segue a leitura
“- Isto mesmo, seu
filho! Você me abandonou antes que eu pudesse dizer que estava grávida. Hoje
ele tem 4 anos. Agora sinta o mesmo abandono. Nunca o verá, nem a mim nem a
ele, o seu filho...”
O homem olha novamente a foto, franze o cenho mais ainda.
Olha com mais atenção. Aos poucos sua expressão vai suavizando surgindo um
sorriso muito leve. Passa o dedo pelo rosto do menino. Olha para cima, para o
nada, buscando algo em suas memórias.
“- Hoje ele tem 4
anos...”
O homem tem ar pensativo. Pega seu celular, começa a mexer
nos nomes da agenda, parando em alguns nomes de mulher. Para um ele balança
negativamente a cabeça, em outro ele sorri levemente com ar de saudade. Olha
novamente para a fotografia com o mesmo sorriso leve. Seu celular vibra, na
tela uma mensagem de sua namorada, para onde ele está viajando faz seu seu
semblante fechar novamente, volta a franzir o cenho com ar pensativo e de
preocupação. Um filho... Ele sempre pensou em ter um, agora de súbito ele tinha
um?
De repente uma mulher se aproxima dele. Ela vem de cabeça
levemente abaixada e com ar envergonhado
“- Senhor, me perdoe,
esta fotografia não era para o senhor, de longe acabei confundindo-o com outra
pessoa. O senhor me desculpe...”
A mulher pega suavemente a fotografia das mãos do homem que
não oferece resistência. Com ar de espanto, de alivio, mas no final de lamento
também.
Olha o relógio e percebe que desta vez o tempo acelerou e já
está atrasado, toma o ultimo gole de café rápido, junta sua mala e sai
apressado.
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