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quarta-feira, 15 de maio de 2013

O Justiceiro


Ainda não era noite quando Daniel parou na sinaleira daquela movimentada avenida. Era a terceira sinaleira seguida que fechava justo quando ele chegava. Certo que alguém estava de sacanagem com ele. Depois de um dia de cão só o que ele queria era chegar em casa e tirar o dia de cima das costas, mas o sinal contava os segundos vagarosamente. Ele semicerrou os olhos para a luz vermelha que deveria piscar a intervalos regulares e para o digital do relógio que marcava os segundos em busca de uma discrepância, mas o sinal decidiu abrir antes de chegar a uma conclusão.

Uma esquina adiante e uma confusão parecia se formar e ao se aproximar percebeu o dono de um automóvel aos berros e correndo em direção a um lugar que Daniel ainda não identificara mas junto a rodovia que ele mesmo seguia. Parou ao lado do motorista corredor que então desistia da carreira de maratonista:

- O que foi? – Perguntou ao homem
- Uns filha da puta ladrãozinho bagaceiro, pegaram meu estepe quando eu ia trocar o pneu do carro. Ladrãozinho chinelo, Roubar estepe tem de ser bem chinelo..
- Capaz!! Mas pegaram assim no mais?
- Pegaram, um pegou e subiu na moto com o outro, e sairam varado, nem deu pra ver o rosto do ordinário que tavam de capacete. Filhos duma cadela!
- Que merdão! E tu tem como fazer agora com o pneu que furou?
- Tenho... Eu vou ligar pro meu mecânico e ele dá um jeito pra mim, não dá nada. Só a filhadaputice mesmo...
- Precisa que alguma coisa eu te dou uma força ai...
- Não, obrigado, aqui eu me ajeito, fazer o que... Nessas horas não passa um puto dum policial.
- Pior... Bom, boa sorte ai – Disse Daniel e se foi adiante. Era um absurdo que isso acontecesse. Covardia direto. Ah se ele pegasse um cara destes. Cagava a pau com toda certeza. “Com a raiva que to do dia se eu acho um cara destes hoje eu matava...” pensou

Seja por brincadeira de alguém lá de cima, destino ou coincidência, quatro esquinas depois Daniel percebeu uma moto que saia de um posto de gasolina. O piloto de capacete preto não permitia que se viesse o rosto, mas o carona é que fez Daniel abrir um sorrisão, pois carregava meio que desajeitadamente um pneu de automóvel a tiracolo, com roda e tudo. Daniel acelerou o carro e logo emparelhou com a motocicleta fechando-a e obrigado-os a frear fortemente o que levou a moto ao chão. Neste tempo Daniel saiu aos berros de dentro do carro:

- É polícia vagabundo! Solta essa merda ai! – Naturalmente que “polícia” neste caso era mera força de expressão, mas os meliantes não sabiam disso. Então voou para cima do piloto, que tomou o primeiro chute entre as costelas e um soco no capacete que doeu mais na mão que no rapaz. Enquanto isso o carona fazia menção de levantar quando Daniel voou novamente começando a bater de socos no capacete antes que ele tivesse tempo de reagir, em verdade não parecia que ele tentaria, já que o rapaz tentava tão somente se defender.

Daniel virou novamente apenas para ver que o piloto fugia “em pernas” e já se encontrava longe, então voltou sua furia para o que ficou.

“- Vagabundo! Marginal! Isso é para aprender a não ser ladrão!”
“-Não tio! Não!” Gritava o rapaz a cada mata-gato que tomava
“Não é o caralho, safado de merda! Agora é não né?” E vapt no rapaz, e mais uma e mais outra.

Vendo que o rapaz não esboçava maior reação e já com a mão virada em um rocambole de bater no capacete, Daniel pegou o estepe e girou para longe. Tinha certeza de que eles não iriam mais pegar. Decidiu ir embora. Já era demais por uma noite. Estava estressado, cansado e agora com as mãos machucadas, e aqueles ali pensariam duas vezes antes de roubar novamente.

“- E ai que eu saiba que roubaram uma calota que seja novamente. Te boto a apodrecer na cadeira! Vaza!”
“- Mas tio, o pai...”
“- Agora acha de chamar papaizinho! Não tem pai nem meio pai... Vaza vagabundo.”

O rapaz não esperou uma segunda possibilidade e tão rápido quanto conseguia seguiu o caminho que o nariz apontava deixando ainda uma das havainas para trás.

Daniel entrou no carro. Deu um suspiro de alivio e girou a chave. Em casa ainda ia ter que dar explicação para a mulher de porque tinha chegado atrasado e ainda com a roupa naquele estado, mas fizera o que tinha de fazer. Estava cansado de ver a omissão sobrepujar as decisões e pesar na balança para o lado dos meliantes. Ao menos por uma noite havia feito justiça. Dormiria dolorido, mas em paz...

Cerca de uma hora antes, em uma rua alguns quarteirões dali...

“- Filho, presta atenção. O pai precisa que tu leve este estepe lá no borracheiro que tem no posto de gasolina. Já chamei o beto que vem de moto ai, tu leva lá conserta e traz o pneu aqui que o pai fica esperando tá...



* História baseada em fatos reais. Os nomes foram preservados para garantir a integridade dos eventuais envolvidos

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